segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Adestrador que ajudou a salvar tartaruga no Aterro diz que homem pegou o animal para comer, segundo outros moradores em situação de rua 

Homem foi parado por policiais militares na Praia do Flamengo, mas acabou conseguindo escapar após a abordagem 

Por Anna Bustamante* — Rio de Janeiro


Foto: Arquivo pessoal

O adestrador Adriano Almeida passeava com dois cães, perto do Aterro do Flamengo, quando viu uma cena inusitada na manhã da última segunda-feira: um homem, aparentemente em situação de rua, carregando uma tartaruga marinha enrolada num lençol. Adriano parou a caminhada e abordou o indivíduo. O adestrador foi um dos responsáveis pelo resgate da tartaruga, que acabou sendo devolvida ao mar. O homem que carregava o animal, que seria conhecido pelo apelido de Baiano, conseguiu escapar. Segundo Adriano, outras pessoas em situação de rua que vivem na área disseram que Baiano pretendia comer a tartaruga.

— O pessoal em situação de rua, que conhece ele, disse que ele pegou a tartaruga para comer mesmo. Mas é bem provável que foi isso mesmo, porque se você pesquisar, tem regiões do Brasil que tem sim o hábito de comer a carne da tartaruga. E normal para eles. Não sei se ele realmente ia comer, mas boa coisa ele não ia fazer com a tartaruga, porque ela ia acabar morrendo nos braços dele, já estava a muito tempo fora da água — disse o adestrador.

Adriano definiu a cena como bizarra:

— Eu vi um cara e uma uma mulher gritando com ele, ele estava enrolado em um lençol e a tartaruga balançando as nadadeiras. Foi uma cena bizarra, porque ela é muito pesada, eu chuto uns 30 quilos. Ela ja estava sangrando, até.

Após policiais militares abordarem o homem com a tartaruga, o animal foi levado de volta para a água. Aproveitando a atenção dos PMs à devolução do animal ao mar, o homem fugiu.

Se o homem realmente comeria a tartaruga, não se sabe. Mas ingerir a carne do animal tem riscos, explica o biólogo Ricardo Gomes, diretor do Instituto Mar Urbano. O quelonitoxismo é uma forma de intoxicação alimentar causada pela ingestão de carne de tartaruga. Um exemplo trágico ocorreu no ano passado, quando oito crianças e uma mulher perderam a vida após consumir carne de tartaruga marinha no arquipélago de Zanzibar, no Leste da África. Além disso, outras 78 pessoas precisaram ser hospitalizadas.

Esse problema está associado à proliferação de algas nocivas em ambientes marinhos, que contaminam a água com toxinas liberadas por essas plantas. As cianobactérias, também conhecidas como algas verde-azuladas, são um exemplo. Essas bactérias produzem toxinas que podem ser absorvidas por peixes e outras formas de vida aquática, permanecendo em seus organismos. As tartarugas marinhas, ao se alimentarem de organismos contaminados por cianobactérias, acabam acumulando essas toxinas, que são responsáveis pelo quelonitoxismo.

— A tartaruga do vídeo deve ter se recuperado bem, se ela não tiver sofrido nenhum trauma mais severo. Como as imagens são de bem longe, parece que ela tem uns 15 quilos, e pelo tamanho uns 10 anos, mas é impossível de afirmar com certeza. O que posso afirmar é que 99,99% das tartarugas da região são tartarugas verdes — contou o biólogo Ricardo Gomes, diretor do Instituto Mar Urbano.

— A tartaruga foi um milagre de Deus mesmo, porque o cara sair lá da praia, andar aquela rua toda, e ter essa pessoa que filmou, além da polícia ali, foi realmente um milagre, se não ele tinha carregado a tartaruga para fazer sabe-se lá o quê. Infelizmente as coisas só vem piorando. Eu recebi mais denúncias até aluguel de churrasqueira. No parque, churrasco é proibido. Tem também a questão dos ensaios de formatura, que nunca tem fiscalização quando eles soltam aqueles lança confetes, eles vão todos para água, exatamente onde ficam as tartarugas — disse a representante dos moradores.

*Estagiária sob supervisão de Giampaolo Braga.

fonte:https://extra.globo.com/

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