terça-feira, 26 de novembro de 2024

 

Renda do empreendedor branco é 60% maior que da empreendedora negra

Enquanto o rendimento médio das mulheres negras cresceu 13,9% no período avançado, o dos homens negros avançou 10,3% no setor


Brasília|Victoria Lacerda, do R7, em Brasília

Desigualdade de renda entre empreendedor branco e empreendedora negra ultrapassa 60%, aponta pesquisa
Desigualdade de renda

Uma pesquisa do Sebrae, baseada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), revela um panorama preocupante sobre a desigualdade de renda no empreendedorismo brasileiro. Entre 2019 e 2023, o rendimento médio das mulheres à frente de negócios cresceu 5,7%, superando o aumento de 4,5% dos homens.

Apesar disso, as mulheres continuam ganhando, em média, 30% menos que os homens, uma redução leve em relação aos 32% arrecadados em 2019.

O recorte racial evidencia uma disparidade ainda maior. “Se para as empreendedoras a situação já é difícil, para as mulheres negras os obstáculos são ainda mais complexos”, comenta Margarete Coelho, diretora de Administração e Finanças do Sebrae.

Enquanto o rendimento médio das mulheres negras cresceu 13,9% no período avançado, o dos homens negros avançou 10,3%.

Mesmo assim, a renda das mulheres negras continua sendo a mais baixa entre todos os segmentos, e a diferença em relação aos homens brancos ultrapassa 60%.

“Ainda assim, as mulheres negras continuaram ganhando abaixo de todos os demais segmentos”, reforça Margarete.

Além disso, as dificuldades no acesso ao crédito permanecem como uma barreira significativa. Negócios liderados por mulheres enfrentam taxas de juros, em média, quatro pontos percentuais mais altos do que aquelas aplicadas a empresas comandadas por homens, agravando ainda mais as condições desiguais no mercado.

“Hoje, as empreendedoras, especialmente as negras, precisam enfrentar barreiras culturais e sociais, resultado da cultura machista entre nós, e entraves que impedem o desenvolvimento de seus negócios”, conclui Margarete.

Superação

Moradora de Passos, Minas Gerais, Edilaine encontrou nossos “Amigurumis” – bonecos de crochê – uma forma de superar o desemprego e gerar renda. Há três anos, ela vende suas peças e alcança um faturamento médio de R$ 1.500 por mês.

“Acredito que não somos o melhor momento para empreender em qualquer área, pois as redes sociais nos dão muitas ferramentas que nos ajudam a crescer, melhorar e buscar especialização”, relata Edilaine, proprietária da Dylamigurumi. “Eu não tive muita rede de apoio, mas minha família e meu esposo me criaram”, relembra.

Agora, Edilaine investe em capacitação para expandir seus negócios no mercado digital. “É uma mentoria para me ajudar a contribuição nas vendas nas redes sociais, abrir uma loja dentro do meu Instagram, entre outras iniciativas”, explica.

Enquanto iniciativas individuais como a de Edilaine apontam para o potencial do empreendedorismo, os números destacam a urgência de políticas públicas e iniciativas privadas que promovam a igualdade no mercado de trabalho e no acesso ao crédito.

Apenas assim será possível reduzir as barreiras que dificultam a jornada de milhões de mulheres empreendedoras no Brasil.

Empreendedorismo é uma ferramenta contra fome e pobreza

Durante sua participação no Delas Summit 2024, realizado nesta quinta-feira (21), o presidente do Sebrae, Décio Lima, afirmou que o empreendedorismo é essencial para superar o Mapa da Fome e reduzir as desigualdades no Brasil. Para ele, os pequenos negócios, que representam a grande base da economia brasileira, têm um papel fundamental na geração de emprego e na inclusão social.

“O espírito empreendedor é a chave para realmente superarmos o Mapa da Fome no nosso país. Só neste ano, vamos consolidar a criação de mais de 4 mil novas empresas com o perfil de micro e pequenas empresas. São esses pequenos negócios que têm uma enorme capacidade de resposta e resiliência”, declarou Lima.

Ele destacou a desigualdade estrutural do mercado brasileiro, onde, segundo ele, 70% do PIB está concentrado em apenas 5% das empresas, enquanto os pequenos negócios, que envolvem 95% das empresas no Brasil, geram apenas 30% do PIB. Essa disparidade é um reflexo do sistema financeiro brasileiro, voltado para rentistas e grandes corporações.

“O mercado não foi feito para os pequenos. Ele foi feito para acumular riqueza. O sistema financeiro e os rentistas absorveram grande parte da economia brasileira e mundial. No entanto, são os pequenos negócios que formam uma grande base da economia, e é com eles que precisam trabalhar para gerar mudanças.”

Ações do governo e do Sebrae

Lima também elogiou as ações do governo do presidente Lula, que, em parceria com o Sebrae, lançou a maior carteira de crédito da história do Brasil para apoiar as micro e pequenas empresas. Essa iniciativa visa garantir que os pequenos negócios tenham acesso ao crédito necessário para se expandir e contribuir para o desenvolvimento do país.

“O governo do presidente Lula, junto com o Sebrae, lançou a maior carteira de crédito da história do nosso país, focada em atender micro e pequenas empresas. E hoje, estou lançando uma carteira exclusiva para apoiar o empreendedorismo feminino.”

Lima também abordou a questão crítica do acesso ao crédito, que ainda é um grande obstáculo para os pequenos empreendedores no Brasil. Segundo ele, 88% dos pequenos negócios não têm acesso a crédito, o que dificulta a expansão e a sustentabilidade desses empreendimentos.

O presidente do Sebrae ressaltou que o crédito é essencial para a aquisição de bens, estoque e investimento, como no caso de financiamento de casas, carros e até roupas, que são acessíveis à grande maioria da população, mas não chegam aos pequenos empreendedores.

“Se fecharmos um balanço da economia do Brasil, ele fica um terço do tamanho que deveria ser do ponto de vista econômico. Dois terços do crédito vai para as grandes empresas e setores, enquanto os pequenos empreendedores, que formam a espinha dorsal da economia, Fique sem acesso a esses recursos.”

*A repórter viajou a convite do Sebrae Nacional

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