Maratonista que quase perdeu corrida porque marido 'soltou' filhas na pista nega ter sido boicotada por ele: 'Combinamos antes'
Foto: Arquivo Pessoal
Ao g1, Luciana Lourenção diz que, antes da competição, planejou com o companheiro que ele a esperaria com as crianças antes da chegada, para viverem um momento 'inesquecível'. Mas, no dia da meia-maratona, ela teve de desviar das meninas para o ouro não escapar.
Por Luiza Tenente, g1
Hipótese 1: Você está disputando uma meia-maratona, com chances concretas de faturar o primeiro lugar. Quando avista a linha de chegada, a poucos metros de concluir sua (suada) missão... avista suas filhas e seu marido. As meninas, de 3 e 6 anos, entram na pista (com incentivo do pai) e correm para abraçar você. O que fazer?
Desviar das crianças, adiar o abraço por uns minutinhos e garantir o ouro?
Ou desistir da vitória e se entregar imediatamente ao carinho da família?
A personal trainer Luciana Grandi Lourenção, de 37 anos, escolheu a primeira opção -- e virou assunto até na imprensa estrangeira.
Hipótese 2: Agora, vamos mudar o personagem. Você é o marido da corredora e levou suas duas filhas para ver a mãe competir. O que seria mais correto?
Esperar a esposa antes do fim do percurso e "soltar" as meninas na pista, para que pulem na mãe e cruzem a linha de chegada com ela (com o risco de atrapalhar a competidora e deixá-la fora do pódio)?
Ou aguardar mais para frente, depois do encerramento da corrida, para não colocar a medalha em risco, mas perder o momento emocionante de ver as três correndo juntas?
O empresário Pedro Lourenção, de 43 anos, seguiu a estratégia número 1 -- e foi "cancelado" nas redes sociais por supostamente tentar boicotar a vitória de sua mulher.
Esta meia-maratona, que aconteceu em 5 de maio, em Presidente Prudente (SP), não foi extenuante apenas pelos 21 km de percurso: virou uma competição ainda mais longa nas redes sociais, com "comentaristas" polarizados e bem velozes no julgamento.
Parte deles atacou Luciana ("Custava pelo menos dar um tapinha na mãozinha das crianças?"), enquanto o restante condenou Pedro ("Que marido sem noção, hein, querida , eu já teria pedido divórcio depois de ele achar que você só serve pra ser mãe”).
'A gente tinha combinado antes, diz Luciana
Luciana conta que, apesar de ter uma longa carreira nas corridas de rua, não havia se preparado especificamente para essa competição.
Um dia antes da meia-maratona, ela elaborou um plano com o marido.
"Decidimos levar as meninas para a prova, para que eu pudesse cruzar a linha de chegada com elas. Eu não estava disputando dinheiro, era uma corrida da minha cidade, e seria muito gostoso e legal criar esse momento com as crianças", conta Luciana.
No decorrer do desafio, mesmo sendo um percurso dificílimo, Luciana estava na liderança -- mas com a segunda colocada ali "na cola", cerca de 30 segundos atrás.
"Eu precisava chegar e pronto. Vi as meninas rapidamente, mas não consegui parar: primeiro, porque era uma descida, e eu estava muito concentrada e focada; segundo, porque a minha concorrente estava bem perto de mim", diz. "As crianças entenderam e não ficaram aborrecidas. Expliquei para elas que é muito cansativo e difícil correr uma meia-maratona."
Não havia como Pedro notar, à distância, que a diferença entre as duas atletas estava tão pequena, conta a vencedora.
Ele concorda. "Eu sabia que ela estava chegando, mas não vi a segunda colocada. O organizador [que narrou a competição] também não avisou que eram duas pessoas com chance de ganhar", diz o marido.
'Não fiz nada na maldade, nada para atrapalhar', afirma Pedro
O casal diz que ficou chocado com a repercussão do caso.
Houve até quem julgasse o fato de Luciana ter abraçado um outro homem antes de voltar para ver a família. Um post que viralizou no X (antigo Twitter) insinuou que seria o "futuro namorado" da atleta.
"Aquele careca que aparece no vídeo é meu irmão. Ele correu junto comigo só para me dar apoio e incentivo. 'Freou' um pouco antes da linha de chegada, para 'não roubar meu brilho'. Foi ele quem eu abracei", diz a personal trainer.
"Tudo foi muito distorcido. As pessoas da internet se acham soberanas, acham que têm poder para crucificar os outros sem ver o contexto da história. Isso é doentio."
Pedro diz que está evitando ler os comentários nas redes sociais.
"Ficaram me chamando de sabotador. Mas saibam que foi esse 'sabotador' que fez duas ligações para que a Luciana conseguisse participar da corrida, já que as inscrições tinham terminado. Fiz de tudo para ela ir. Aos domingos, quando ela vai treinar, estamos sem a nossa funcionária, e sou eu que fico com as meninas, com o maior prazer", conta.
"Não fiz nada na maldade, nada para atrapalhar."
'Limitada' ao papel de mãe?
Perfis de maternidade nas redes sociais compartilharam longas reflexões sobre a importância de as mulheres serem vista para além do papel de "mães".
Luciana, no entanto, diz que nunca foi julgada por ter uma carreira e se dedicar também ao esporte.
"No meu círculo, não tenho problemas com isso. E quero que as meninas me enxerguem desta forma: sou uma mãe carinhosa, mas também uma esposa, uma profissional, uma corredora. Tenho o lado da mãe que não dorme quando o filho está doente à noite, mas também participo de uma meia-maratona."
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