Custo para enterrar fios em São Paulo pode passar de R$ 80 bilhões e aumentar tarifa de luz
Especialistas apontam benefícios, como menor interferência e mais segurança, mas afirmam que solução não resolve todos problemas
Apagão em SP levantou a discussão sobre enterramento de fios
EDU GARCIA/R7 - 06.09.2022O enterramento de fios na cidade de São Paulo tem sido discutido, pelo menos, desde a gestão de Gilberto Kassab (PSB), prefeito da capital paulista entre 2006 e 2013. E com o apagão na cidade que afetou mais de 2 milhões de pessoas após o temporal da última sexta-feira (3), o assunto tornou-se palco para novas discussões de urgência.
A estimativa foi feita pela TelComp (Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecom) com base no valor que seria pago atualmente para enterrar 81 km de fios em regiões como Bela Vista, alameda Santos e Vila Olímpia, locais que fazem parte do programa SP sem fios, da Prefeitura de São Paulo.
“São Paulo tem mais de 20.000 km de cabos de telecomunicações e pode ter mais que o dobro se avaliarmos que, numa mesma via, pode haver postes dos dois lados. Da parte de telecomunicações, temos um orçamento estimado em R$ 310 milhões para enterrar as redes nesses 81 km de via. Então se fizermos uma conta para os 20.000 km de cabos na cidade, seria uma estimativa de R$ 80 bilhões”, explica o presidente-executivo da Telcomp, Luiz Henrique Barbosa.
Mais do que uma paisagem esteticamente feia, a quantidade de fios embaraçados e soltos pela capital traz riscos à segurança e aos serviços públicos, como na interrupção do fornecimento de energia elétrica, em casos de pessoas que levam choques ou até morrem eletrocutadas.
Com a queda de energia em São Paulo e a pressão da população, o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), sugeriu, em uma entrevista coletiva na última segunda-feira (6), a cobrança de uma contribuição opcional de moradores para o enterramento de fios da rede elétrica da cidade.
Porém, um dia depois, a prefeitura voltou atrás e disse que "não existe, nem nunca existirá" uma taxa extra para realizar o serviço.
O presidente-executivo da TelComp afirma que o enterramento dos 81 km de cabos do programa SP sem fios é 100% custeado pelas empresas de telecomunicações. Em relação às distribuidoras de energia elétrica, o valor pode pesar na tarifa do consumidor.
Avenida Paulista tem fios subterrâneos
UNSPLASH“Se a prefeitura diz que tem que enterrar as redes elétricas, isso passa pela concessionária, como a Enel, por exemplo, e a empresa vai precisar aumentar a tarifa para esse serviço”, pontua Barbosa.
O mestre em engenharia de eletricidade e especialista que atua na empresa Imagem Geosistemas, Alexandre Aleixo, explica que qualquer investimento na rede tem cobertura tarifária, garantida por regulamento.
"Isso pode dar um salto tarifário muito grande, significa que, se hoje você está pagando R$ 200 ou R$ 300 na conta de luz, com a revisão tarifária, pode vir a pagar R$ 500", diz.
Para o especialista, também não vale a pena pensar em enterrar os fios de toda São Paulo, como em locais rurais ou em regiões que interligam outras cidades "porque seria um custo absurdo sem necessidade".
Os especialistas consideram que pensar em enterrar os fios de toda a cidade devido a uma crise não é o melhor a fazer nessas ocasiões. Além do alto custo, as obras para a realização desse trabalho também impactariam diretamente a vida dos cidadãos.
Problemas como interdição de ruas ou avenidas, buracos e barulho podem incomodar moradores. Além disso, há casos de cadastro incorreto de redes de água, o que pode prejudicar o planejamento de enterramento de fios.
Alexandre Aleixo ainda evidencia a importância em se pensar no enterramento de fios por região, isto é, saber onde é mais necessário, em qual lugar vai afetar menos o trânsito e, se afetar, quais opções de rota dar aos motoristas, quais empresas vão poder fazer o aproveitamento daquela obra, abrangendo concessionárias de energia elétrica, telecomunicações e saneamento básico.
"Se for enterrar tudo ao mesmo tempo, será o caos, não dá para fazer de forma simultânea. Numa crise a gente aborda o assunto, mas é um plano de dezenas de anos", afirma presidente da TeleComp, Luiz Henrique Barbosa.
Apesar da série de prós, a rede 100% subterrânea não traria garantia de problema resolvido, opina o diretor, uma vez que ocorrências como alagamentos poderiam atingir a rede. “É tudo questão de um planejamento bem feito e pensado”, ressalta.
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