quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

‘Esses casos, infelizmente, estarrecem pela violência’, diz delegado que investiga morte de jovem decapitado na Rodovia Júlio Budiski


Pode ser uma imagem de estrada

Foto: Polícia Rodoviária

Caso ocorrido em Presidente Prudente (SP) é tratado, inicialmente, como homicídio culposo na direção de veículo automotor e fuga de local de acidente.
Por Bárbara Munhoz, g1 Presidente Prudente
Um inquérito policial será instaurado pela Central de Polícia Judiciária (CPJ) para apurar as causas da morte de um jovem, de 20 anos, encontrado decapitado no km 6,5 da Rodovia Júlio Budiski (SP-501), nas proximidades do Jardim Santa Fé, em Presidente Prudente (SP), na última quinta-feira (19).
Durante as diligências já iniciadas pela polícia, serão ouvidos familiares da vítima e possíveis testemunhas do ocorrido tratado, inicialmente, como homicídio culposo na direção de veículo automotor e fuga de local de acidente.
Conforme o delegado responsável pelas investigações, Marco Antônio Mantovani, até o momento, o panorama fático não mudou. Segundo ele, em razão do que foi observado inicialmente, é possível que tenha sido uma fatalidade no trânsito. No entanto, é necessário aguardar os laudos periciais e necroscópicos emitidos oficialmente, que devem ficar prontos em até 30 dias.
“É uma coisa que é difícil compreender mas, de vez em quando, a gente se depara com situações assim, tão extraordinárias. Mas não vamos trabalhar já com a verdade posta, porque não podemos nem afirmar que seja efetivamente isso. A nossa experiência, a experiência dos profissionais que estiveram atendendo, num primeiro momento, à ocorrência, leva-nos a crer que foi isso, mas não podemos cravar nada ainda”, informou ao g1 o delegado, nesta terça-feira (24).
Investigações estão sendo realizadas, inclusive, na extensão da via onde o homem foi encontrado, a fim de reunir informações necessárias para a apuração dos fatos, segundo Mantovani. Junto aos depoimentos da família e de testemunhas, além das informações coletadas por investigadores no curso das diligências, os documentos podem “corroborar a primeira hipótese ou dar algum norte de algo que ainda não chegou ao conhecimento da equipe”.
Homicídio culposo
De acordo com o delegado, a possibilidade de ser um crime doloso foi afastada inicialmente devido à dinâmica dos fatos. As investigações, ainda preliminares, baseiam-se nas informações materializadas no registro pelas equipes de polícia que atenderam ao chamado.
“Esses casos, infelizmente, num primeiro momento, estarrecem pela violência do ferimento, do quadro que se apresenta. Às vezes pode não ser aquilo que a gente imagina. Geralmente, numa situação dessa, quando a gente fala de crime doloso, com requinte de crueldade, ele não acontece assim, em aberto ao público ou visível a quem quer que seja”, ressaltou o delegado ao g1.
Os indicativos são de que algum veículo ou até mesmo o excesso lateral de alguma carga transportada tenha ocasionado a lesão acentuada no jovem, de apenas 20 anos.
“É difícil cravar. Pela circunstância, pelo vestígio que foi verificado lá, que o fato se deu naquela condição, os vestígios tanto de substância hematóide, o sangue, quanto da distância entre o tronco e a cabeça do jovem, pela disposição que foi colocado, o fato aconteceu ali. Tamanha violência e, segundo consta, pela falta de indicativo de ter sido uma lâmina com arma branca, por exemplo, alguma folha de aço, alguma faca, um facão ou coisa que o valha, o ferimento demonstra que foi causado por outra coisa. É um ferimento irregular. Não foi um corte que a gente chama, no termo técnico, de ‘corte limpo’, uma ferida incisa que, realmente, foi com algo afiado para esse fim, ou seja, para cortar”, disse Mantovani.
Ao g1, o delegado ainda ressaltou que, por se tratar de um local ermo, são baixas as chances de existirem câmeras de monitoramento instaladas ao longo do trecho. No entanto, todas as provas serão analisadas com o objetivo de descobrir se, realmente, houve um acidente de trânsito e de que forma ele ocorreu.
Relembre o caso
O corpo de um homem, de 20 anos, foi encontrado decapitado, na manhã da última quinta-feira (19), no km 6,5 da Rodovia Júlio Budiski (SP-501), nas proximidades do Jardim Santa Fé, em Presidente Prudente.
Conforme informações da Polícia Militar Rodoviária, a vítima foi encontrada com a cabeça decapitada às margens da via e não havia vestígios de atropelamento, como estilhaços, marcas de frenagem e contusões.
Os policiais militares foram acionados por meio de uma ligação pelo telefone 190.
A cabeça da vítima foi encontrada a uma distância de 30 metros à frente de onde o restante do corpo estava.
Ainda segundo os policiais, não havia monitoramento por câmeras no local. A Polícia Científica realizou a perícia e as causas e circunstâncias da morte começaram a ser apuradas.
De acordo com as informações repassadas pela Polícia Civil, um homem que se identificou como patrão da vítima compareceu ao local onde o corpo decapitado foi encontrado. O empregador contou que o rapaz trabalhava com ele como pedreiro. Diariamente, o jovem esperava o patrão pela manhã às margens da Rodovia Júlio Budiski para pegar uma carona.
O funcionário vinha de ônibus do Jardim Brasil Novo até as margens da Rodovia Júlio Budiski, onde o patrão passava e dava carona ao jovem para o local de trabalho.
No entanto, quando passou pelo local na manhã da última quinta-feira (19), o patrão não encontrou o funcionário.
Em um trecho mais adiante, testemunhas avisaram que tinha um cadáver caído às margens da rodovia e, assim, o empregador retornou e encontrou seu funcionário no chão com a cabeça arrancada e jogada a cerca de 30 metros de distância do corpo. O corpo estava no início da alça de acesso e a cabeça, próxima à ponte.
Também compareceu ao local, segundo a Polícia Civil, um outro homem, que se identificou como irmão da vítima. Ele informou que a vítima não tinha nenhuma desavença com ninguém. No entanto, ponderou que eles possuíam um outro irmão que se encontrava preso em decorrência de um homicídio e que, na época do fato, "juraram de morte a família deles".
A perícia verificou que havia lesão no corpo apenas da queda. Com relação à lesão na cabeça, aparentemente, havia um trauma que a separou do tronco e existia rastro de sangue e cabelo até onde ela foi localizada, o que sugere, em análise inicial, que algo, como o pedaço de um veículo, atingiu a vítima, desconectando as partes.
O corte que decapitou a vítima, ainda segundo a Polícia Civil, não era uniforme nem retilíneo.
Por isso, a Polícia Civil tratou o caso, inicialmente, como homicídio culposo na direção de veículo automotor e fuga de local de acidente.
Segundo a Polícia Civil, o exame necroscópico constatou, no couro cabeludo da vítima, lesões contusas múltiplas e, na região do pescoço, decapitação. Também foram identificadas escoriações de arrasto pelo corpo e fratura na mandíbula, enquanto, internamente, no tórax e no abdômen, sem sinal de trauma. Foram coletados material toxicológico e sangue para confronto de DNA, se necessário.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, as características das lesões na cabeça e da decapitação indicavam que algo atingiu o corpo violentamente, ou seja, um agente de natureza contundente e corto-contundente.
A causa da morte foi atestada como politraumatismo crânio-encefálico e decapitação, conduzido por agente contundente e corto-contundente.
“Neste momento, não há elemento nem para afirmar nem para excluir homicídio ou atropelamento, vai depender da apuração mesmo. O fato das lesões de arrasto no corpo, geralmente vistas em atropelamentos, e a ausência de trauma interno no abdômen e no tórax sugerem o atropelamento”, pontuou a polícia na época.

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