domingo, 1 de janeiro de 2023

Calígrafa de Iepê é selecionada para transcrever termo de posse presidencial, em Brasília


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Fotos: Cedida

Ana Paula Alves Barros foi convidada pelo Senado Federal para transcrever o documento no Livro Histórico de Posse Presidencial. Assinatura da obra pelo presidente eleito faz parte da cerimônia de posse.
Por Bruna Bonfim, g1 Presidente Prudente
O primeiro dia do ano de 2023 é marcado não apenas pelo início do novo calendário, mas também como o dia da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ritual de posse conta com diversas etapas importantes e uma delas teve a participação de uma moradora do Oeste Paulista, a calígrafa Ana Paula Alves Barros.
Ana Paula é escrivã de Polícia em Nantes (SP) e reside em Iepê (SP). Porém, não foi graças ao seu papel na corporação que Brasília contou com sua presença, mas sim devido ao seu trabalho como calígrafa.
O Senado Federal a convidou para transcrever o termo de posse do Presidente da República de 2023 e a abertura do terceiro volume do Livro Histórico de Posse Presidencial.
O termo de posse trata-se do registro formal de que o candidato eleito, de fato, assume a Presidência da República.
O primeiro foi assinado em 1891 pelo Marechal Deodoro da Fonseca. O segundo, aberto para a assinatura de Café Filho, em 1954, registrou, em 2003 e 2007, as assinaturas de Lula e seu vice José Alencar.
Em 2023, as assinaturas do termo de posse devem estrear o terceiro volume do Livro Histórico de Posse Presidencial. Os livros guardam os termos de posse desde o início da República.
Ana Paula foi a primeira a escrever no terceiro volume do livro.
“É uma honra. Ainda mais quando você tem contato com os outros dois livros, como eu tive. Esses livros podem ser vistos no arquivo digital do Senado, mas aqui, dentro do Senado, ele não é aberto ao público. Porém eu tive a oportunidade de entrar no arquivo. Todos esses livros, assim como outros livros do Império, a Lei Áurea, por exemplo, estão nesse arquivo. É um local totalmente climatizado, eles não sobrevivem fora desse local. Então tudo o que você vê fora, como a Lei Áurea, não é a própria lei, é uma reprodução”, contou a calígrafa ao g1.
Esses livros são manuseados apenas nos períodos de posse: de quatro em quatro anos. Todo o acervo histórico é guardado sob monitoramento constante de temperatura e umidade. Há controle biométrico para acesso às salas dos acervos e câmeras de monitoramento.
No dia da posse, o livro é retirado do arquivo no momento da Sessão Solene e levado aos cuidados da Secretaria Legislativa do Congresso Nacional (SLCN), que é a responsável pela produção, elaboração e coleta das assinaturas do novo termo. Além do registro no livro histórico, a secretaria produz outros seis termos avulsos.
Todos os presidentes e vices devem assinar o livro dos Termos de Posse Presidencial.
Arte da caligrafia
Ana Paula comenta que a caligrafia e a escrita são práticas diferentes. A primeira é uma arte e exige prática, o que ela realiza desde muito nova.
“Existe uma diferença entre a escrita cotidiana, que não é a mesma que eu utilizei no livro. A caligrafia é aquela utilizada com pena e tinta, com material que causa contraste, por exemplo, entre grosso e fino, você olha e consegue parecer com tipografia, você consegue parecer com algo impresso, porque ele tem este contraste. Então é um trabalho profissional, não é a escrita do cotidiano, é uma caligrafia artística”.
A escrivã começou a praticar a arte ainda na escola, após se impressionar com a letra de um professor.
“Eu comecei muito cedo a me interessar pela escrita em si, porque eu tinha um professor de matemática que tinha uma letra incrível no quadro, todo mundo adorava. Então eu comecei a replicar, vi que eu era boa em copiar, porque a minha letra original não é bonita, mas eu observei que eu consegui absorver. Eu não entendia que era técnica ainda, mas eu conseguia reproduzir a letra dele observando, sem saber, mas empregando alguma técnica ali no começo”, disse a calígrafa ao g1.
Ana conta que, apesar das dificuldades em ter acesso ao material necessário na época, ela continuou em busca do conhecimento para praticar e aperfeiçoar os traços.
“Sempre tive vontade, mas em cidade pequena você não tem nem bibliografia a respeito e menos ainda material para se comprar, porque no século 20 e 21, são escassos demais. Hoje você tem em grandes cidades ou em lojas virtuais. Então eu demorei para ter acesso a pena e tinta, só fui ter contato com 26 anos. Eu comecei a treinar e procurar bibliografias a respeito, mas só em inglês, porque em português são raríssimas também. Então eu estudei tanto a parte bibliográfica para entender a técnica e a história da caligrafia, quanto a parte prática, que veio primeiro”.
Ana teve seu primeiro trabalho como calígrafa no mesmo ano, onde transcreveu nome de convidados em convites de casamento. Desde então, os trabalhos evoluíram e a levou até Brasília, onde participou de um dos livros mais importantes do Brasil.
Convite do Senado
Na penúltima eleição presidencial, em 2018, o Senado entrou em contato com Ana Paula e a convidou para possivelmente transcrever o termo de posse do então presidente eleito Jair Messias Bolsonaro (PL).
Os critérios para participar eram mandar uma amostra do trabalho como calígrafa e uma proposta de valor. Na época, em disputa com outros calígrafos, Ana não conseguiu o feito. Porém, após o resultado do segundo turno, em novembro, ela recebeu o convite novamente e venceu a concorrência.
O processo da transcrição do termo é trabalhoso e lento. Na última quarta-feira (28), já em Brasília (DF), o Senado entregou uma folha com o conteúdo do termo de posse, que levou cerca de quatro horas para ser completamente transcrito no livro. Ana ainda está na cidade e deve concluir os trabalhos neste domingo (1º), após a cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Hoje, assim que os presidentes [presidente Lula e vice-presidente Geraldo Alckmin] forem empossados, eles assinarão, não só eles, mas também o Arthur Lira, Rodrigo Pacheco, todos os presentes na mesa. Então, assim que eles assinam abaixo do termo de posse, eu vou identificar o nome deles ali. Por exemplo, na assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eu vou escrever o nome dele ao lado dessa assinatura. O vice-presidente, a mesma coisa. Todas essas pessoas eu tenho que identificar. Aí sim, o meu trabalho está encerrado e eu posso voltar para casa” disse ao g1.
Os trabalhos de Ana Paula como calígrafa não apenas deixaram o Livro de Posse Presidencial registrado, mas também fizeram uma marca em sua vida.
“É uma responsabilidade muito grande. Para mim, eu enxerguei de duas formas: é uma forma de me projetar sim, como calígrafa, porque isso dá muito valor para o nosso trabalho, que não é qualquer trabalho. Mas ao mesmo tempo, também tem a questão histórica, porque é de um valor indescritível, é uma coisa que está na memória da história brasileira e esse [livro]vai entrar também a fazer parte. Então para mim, com certeza, é uma honra fazer este documento. É o reconhecimento de que eu cheguei lá. Então é uma felicidade, quando eu soube que eu viria, foi um dos momentos mais felizes da minha vida”, ressaltou.
Planos futuros
Além do trabalho significativo realizado no Senado e o exercício da profissão como escrivã de Polícia, Ana pretende prosseguir com a caligrafia. Os planos para 2023 é lançar um livro e repassar seus conhecimentos na arte da caligrafia.
“O meu foco é na produção de livros. Eu já tenho um manual que eu faço e vendo. Atualmente, estou produzindo um livro sobre o material, inclusive pensando nessa dificuldade de ver conteúdos sobre. Então pensei que seria um conteúdo que as pessoas se interessam. Atualmente eu escrevo um livro físico, se Deus quiser eu publico esse ano”, concluiu Ana.

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Fotos: Cedida

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